Jornal Nippak – Quando os Filhos se Recusam a Amadurecer

Tema: Quando os Filhos se Recusam a Amadurecer!

por Meiry Kamia

Alice, não sabia mais o que fazer com o seu filho. Aos 28 anos Saulo não trabalhava, não estudava, passava o dia “por aí” ou em casa de amigos, ou passeando com a bike e, quando estava em casa, se não estivesse dormindo, com certeza estaria jogando videogame. Não ajudava em absolutamente nada nos trabalhos domésticos.

Era angustiante para Alice assistir seu filho construir um futuro preocupante, repleto de desistências e fracassos. Por duas vezes Saulo iniciou duas faculdades e não conseguiu concluir nenhuma delas, também não conseguia permanecer em emprego algum por mais de seis meses. Era preguiçoso, namorador, frequentemente tinha acessos de raiva, principalmente quando Alice se recusava a dar dinheiro para as noitadas.

Na visão de Saulo, ele era simplesmente uma pessoa sem sorte porque não conseguia bons empregos. Achava que a vida era curta, portanto, precisava usufruir de tudo o que a vida tinha a lhe oferecer! Amava a liberdade de usar o seu tempo da forma como desejava. Odiava ser cobrado ou criticado por qualquer coisa, e esse era um dos grandes motivos de brigas com suas namoradas. Se elas lhe cobrassem algo, logo ele desmanchava o namoro.  

Alice sabia que também era responsável pela situação de Saulo se agravar dessa maneira, mas não sabia onde tinha errado e nem o que fazer para reverter a situação, uma vez que seu filho já era um homem e se recusava a se comportar como tal.

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A história da personagem Alice reflete o drama de milhares de famílias. Filhos adultos que se recusam a crescer e assumir responsabilidades. São egoístas, portanto, não percebem que fazem as pessoas a sua volta sofrerem. Temem a responsabilidade porque acreditam que ela lhes tiraria a liberdade. Pensam apenas em si mesmos, desejando permanecer na zona de conforto, num mundo de fantasias onde a preguiça impera. Donos de uma insatisfação infinita, reclamam, desejam mudanças, porém não se dispõem a mexer uma palha para mudar, querem dinheiro sem precisar trabalhar, querem o prazer, mas não querem o sacrifício de conquistar.

Esses eternos adolescentes vivem a “Síndrome do Peter Pan” – termo utilizado pela primeira vez, pelo psicólogo Dr. Dan Kiley, em 1983, que se referia às características psicológicas do personagem Peter Pan que vivia na “Terra do Nunca”, onde todos os sonhos eram possíveis e não desejava crescer.

A síndrome é um conjunto de comportamentos imaturos que pode englobar: irresponsabilidade, egocentrismo, insegurança, rebeldia, preguiça, dependência, procrastinação, falta de perspectiva, negação da realidade, entre outros.

Tornar-se adulto, ou amadurecer, significa renunciar à infância e ao mundo imaginativo, encarar a realidade e assumir as responsabilidades por si mesmo. Entretanto, alguns jovens adultos encontram muita dificuldade para se despedir da infância e assumir a vida adulta. Algumas das causas principais são:

FALTA DE LIMITES NA INFÂNCIA: muitos pais, por medo de perderem o amor dos filhos e buscando a aprovação dos mesmos, acabam sendo permissivos demais, não dando os limites adequados.  A falta de limites gera a incapacidade da criança em perceber a realidade, compreender as consequências de suas ações e dificuldade em receber “nãos”. Mais tarde na vida, essa falta de treino, gerará adultos que não conseguem se manter em empregos, incapazes de ter iniciativa, com baixa persistência, disciplina, força de vontade e responsabilidade.

FALTA DOS RITOS DE PASSAGENS: antigamente, fases importantes como a da passagem da infância para a adolescência eram marcadas por rituais de passagens. Esses rituais eram de extrema importância para a psique do jovem, pois determinava uma data para que ele soubesse que o seu papel perante aquela sociedade estava mudando e que, a partir daquele momento, ele assumiria outros comportamentos e responsabilidades. Hoje não temos mais ritos de passagens, o que dificulta o jovem a saber exatamente quando ele deixa de ser um menino para se tornar adulto.

Outro fator que confunde o jovem na saída do mundo da fantasia para a realidade é o mundo virtual. A própria tecnologia, apesar dos pontos positivos, pode trazer confusão nessa fase.

FALTA DE TREINO PARA O TRABALHO: atualmente poucos são os jovens que já tiveram algum contato com o trabalho. Pais preferem manter os filhos na escola e longe do trabalho. Nossa própria legislação corrobora para que isso aconteça. Isso faz com que os jovens cheguem ‘crus’ demais para o ambiente de trabalho, sem conhecer a ética e noções básicas do trabalho. Trabalhar exige esforço mental e físico, se o jovem não está acostumado a isso, rapidamente desistirá porque se sentirá cansado.

Além disso, crescemos com a crença de que trabalho só serve para ganhar dinheiro, e se há algum jovem trabalhando é porque ele ‘é pobre’, portanto, ‘precisa trabalhar’. Sendo assim, o jovem moderno entende que, se ninguém ainda está passando fome em casa, então não tem necessidade de trabalhar. Isso é visto até como algo positivo, dando uma sensação de status superior.

INSEGURANÇA: justamente por não terem sido preparados para enfrentar a realidade da vida madura, esses jovens se sentem muito inseguros e têm muito medo desse novo modo de viver a vida. Não têm perspectiva de futuro. Têm muito medo da solidão, por isso se escondem atrás das amizades. Quanto mais mimados foram na infância, maior será a insegurança para enfrentar a vida adulta.

O problema é que os pais só se dão conta de que algo está errado quando o filho atinge a maioridade, e esperam que num passe de mágicas, o filho acorde do sonho da infância e passe a se comportar como um adulto responsável. Mas percebem que os anos passam e nada muda. Se esse é o seu caso, seguem cinco dicas para ajudar o seu filho a amadurecer:

1)    SEU FILHO JÁ É UM ADULTO: lembre-se que seu filho já é adulto e você deve tratá-lo como tal. Pais devem assumir que são co-responsáveis pela situação atual e, portanto, também devem ter postura ativa para reverter o quadro. Educar não é fácil, nesse processo, os pais devem ter consciência de que terão que ser firmes para suportar as chantagens emocionais e o mal humor dos adultos imaturos que têm em casa, pois eles farão de tudo para manter a zona de conforto. 

2)  AMAR É ATENDER AS NECESSIDADES E NÃO OS DESEJOS: pais devem saber a diferença entre necessidades e desejos. Isso vale para todo o período de educação. Antes de sair comprando tudo o que seu filho pede, atendendo a seus desejos, pense antes quais são as necessidades de seu filho. Por exemplo, se ele não sabe economizar, comprar tudo o que ele pede (atender seus desejos) apena reforça comportamentos negativos. Ou, dar dinheiro para ele gastar na balada ou com namoradas não atendem às necessidades deles, e sim a seus desejos. Se seu filho precisa desenvolver iniciativa, cooperação, senso de economia, você deve oferecer situações que atendam a essas necessidades. Aprenda a dizer “não” para os desejos e “sim” às suas reais necessidades.

3)    DELEGUE TAREFAS DA CASA: independente de seu filho estar trabalhando ou não fora de casa, se ele vive em sua casa, deve ter responsabilidades. Combine tarefas e determine regras de convivência. Por exemplo, se ele não lavou a roupa dele, não faça por ele, e também não passe, deixe-as amassadas. Se ele não arrumou o quarto, não tem direito de pegar o carro, ou coisas do tipo. Mostre a ele a relação entre ação e reação, a regra do “não há almoço de graça” deve funcionar em sua casa, pois é assim que a vida funciona.

4)     DEIXE-O “SE VIRAR”: evite fazer coisas pelo seu filho. Pare de perguntar o tempo todo “está com fome?”, “está com frio?”, “Vai sair? Leve a blusa!”, pare de fazer lanchinhos e oferecer o tempo todo, deixe que ele comece a cuidar dele mesmo, afinal, ele não é mais criança, portanto, não o trate como tal.

5)   AJUDE-O A PLANEJAR O FUTURO: reserve um tempo para conversar com seu filho a respeito de seu futuro. Ajude-o a planejar quanto tempo ele dedicará na procura de um emprego, que ações ele realizará, ajude-o a planejar seu dia para que seja o mais produtivo possível, delimite tempo para tv e vídeo games. Dê o apoio necessário, mas nunca faça por ele.

MEIRY KAMIA é Palestrante, Psicóloga, Mestre em Administração de Empresas, Consultora Organizacional. Autora do livro “MOTIVAÇÃO SEM TRUQUES”. Também é ilusionista, premiada como melhor mágica feminina da América Latina, pela Federação Latino-Americana de Sociedades Mágicas. Desenvolve palestras motivacionais e treinamentos diferenciados, aliando Arte Mágica, Teatro e Psicologia. Contatos:  www.meirykamia.com; atendimento@meirykamia.com

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